Jackson do Pandeiro quando misturou Chiclete com Banana e
plantou as raízes do samba-rock, já era pós-moderno, globalizado, e nem sabia
disso. O certo é que misturas sempre foram bem-vindas na cultura, principalmente
na música. Os cantos de trabalho dos negros nas plantações de algodão do sul
dos Estados Unidos no século XIX, até primeira metade do século XX geraram os
spirituals, o gospel e o blues. E foram se misturando com elementos da música
europeia, até gerar o som do jazz, descambando no rock.
No Brasil do fim dos anos 1950 e início dos 60, Roberto
Carlos imitava João Gilberto e cantava bossa nova, conheceu Erasmo Carlos, se
encantou com a fúria do som do rock de Chuck Berry, Elvis Presley e Beatles,
misturou suas influências com as do parceiro e, juntos, lançaram a jovem
guarda. Jorge Benjor misturou rock com samba e bossa. Caetano e Gil contaram
com as guitarras dos Mutantes e Beat Boys, e revisitaram Luiz Conzaga, para
criar a Tropicália. Alceu Valença, Lula Cortes e Chico Science, de Pernambuco;
Zé Ramalho, da Paraíba; Fagner, Ednardo e Belchior, do Ceará misturaram suas
raízes nordestinas com o rock e o pop internacional e conquistaram o Brasil,
com um som agreste e cheio de energia.
Num passado recente, Calypso, Gaby Amarantos e outros,
sacudiram o Brasil com a mistura paraense de brega e carimbó com pop, Techno,
melody e música das aparelhagens. Tá certo que às vezes, a mistura passa um
pouco do ponto, e sai um Wesley Safadão, mas, enfim... são os riscos inerentes
a qualquer boa mistura.
Agora, acho que os ritmos do Amapá, como batuque e
marabaixo podem muito bem ser a bola da vez do mercado musical brasileiro, que
anda carente de novidades. Osmar Junior diz que Adelson Preto é o que há de novo
e interessante na música amapaense. Adelson e Banda Afro Brasil mesclam
marabaixo com reggae, zouck, samba e fazem outras experimentações sonoras, sem
perder a identidade.
Aí está uma grande oportunidade para bandas de rock que
estão a procura de uma sonoridade pra chamar de sua. Misturar o rock com o
marabaixo ou batuque, dar um up-grade na velha receita dos três acordes e, quem
sabe iniciar a terceira onda do rock nacional. Dessa vez com um sotaque do
norte, temperado com tucupi e pimenta e ainda mais quente pela ação do sol do
equador. O rock das bandas do Amapá.
Cacá Farias
Nenhum comentário:
Postar um comentário